Em Busca de um Sonho
O
objeto de estudo deste artigo são pessoas que lutam para conquistarem seus
sonhos, vencendo as adversidades.
A.L. era um jovem simples, filho de
lavradores. Não teve privilégios sociais, não viveu em palácio, raramente
ganhava presentes. Mas tinha uma característica dos vencedores: reclamava pouco.
Nada melhor para fracassar na vida do que reclamar muito. Não sobra energia
para criar oportunidades. Desde a juventude A. L. conheceu as dificuldades da
existência. Perdeu a mãe aos nove anos.
O
sabor amargo e cruel da solidão penetrou nos becos da sua emoção. O mundo
desabou sobre ele. Perder a mãe na infância é perder o solo onde caminhar. É o
último estágio da dor de uma criança. Um ser humano pode ser rico mesmo sem ter
dinheiro se tem ao seu lado pessoas que o amam; mas pode ser miserável ainda
que milionário se a solidão é sua companheira.
Nosso
jovem poderia ser controlado pela perda, mas sobreviveu.
Havia
algo nele digno de elogiar: sua capacidade enorme de viajar.
Viajava
muito. Transportava-se para lugares longínquos e de difíceis acessos. Mas como
viajava, se não tinha dinheiro?
Viajava
pelo mundo dos livros.
O
mundo dos livros dá asas à inteligência. Quem os descobre voa mais longe. Certa
vez, por não ter recursos financeiros, A.L. ousou pedir aos vizinhos e aos
amigos livros emprestados. Ficava um pouco inibido, mas não tinha medo de ouvir
um não. Tinha medo de não aprender. Amou cedo à sabedoria. Você ama a
sabedoria?
Construiu
secretamente um tesouro enterrado no seu intelecto.
Era
comum por fora, mas um sonhador por dentro. Os maiores tesouros estão ocultos
aos olhos. Pensava na vida enquanto muitos só pensavam nos prazeres
momentâneos.
Era
possível vê-lo parado com um olhar vago. Parecia estar em outro mundo. Estava no
mundo das ideias. As necessidades e sofrimentos desde a sua mais tenra
infância, em vez de ceifar lhe a criatividade, produziram sonhos.
Certa
vez ele teve um belo projeto: "Vou montar um negócio...”.
Sonhava
em ganhar dinheiro, ter prestígio social e conquistar uma vida tranquila. Um
bom sonho. Sentiu-se como um poeta, inspirado e destemido. Nos sonhos tudo
parece fácil, não há acidentes. Mas todo sonho traz alguns pesadelos. O
resultado do negócio?
FALÊNCIA.
Aprendendo
a não ser controlado pelos fracassos
Você
já enfrentou a dor de uma derrota? A.L. viveu-a e ficou abalado, mas não se
submeteu ao controle dela. Assumiu-a, enfrentou-a e enxergou-a por outros
ângulos. Seu enfrentamento impediu que o fenômeno RAM gerasse um conflito, uma
área doentia da memória, uma janela de tensão.
Ele
levantou a cabeça e voltou a sonhar. Saltou do mundo dos negócios para o mundo
da política. Mas era ingênuo, não conhecia os enigmas desse terreno.
Candidatou-se a um cargo. Estava muito animado, queria ser um político diferente.
Teve muitas inspirações.
Sentia
que poderia ser um grande homem. O resultado das urnas?
FOI
DERROTADO!
"Não
é possíve1!", exclamava. "O que fiz de errado?" Muitas perguntas,
muitas respostas, mas nenhuma apaziguava a sua emoção. A razão tenta se
preparar para as derrotas, mas a emoção nunca se submete a elas. No dia
seguinte, o "eu" do nosso jovem, que representa sua capacidade de
decidir, controlar seu mundo, ser consciente de si mesmo, estava abatido. Não
tinha ânimo para conversar com ninguém.
Olhar
os vencedores desse pleito detonava um fenômeno inconsciente que atua em
milésimos de segundo, chamado gatilho da memória ou fenômeno da autochecagem.
Esse gatilho abria uma janela da memória que continha a experiência do fracasso
na urna, e desse modo, checava a sua condição de derrotado.
A
consequência?
Um
mecanismo súbito de ansiedade desenhava-se no cerne da sua mente. Pensamentos e
emoções angustiantes avolumaram-se, gerando nó na garganta, boca seca,
taquicardia. Parecia que seu cérebro o estava avisando de que ele corria perigo
e precisava fugir.
Fugir
do quê?
O
jovem enfrentou o drama da derrota muito cedo. Alguns, ante um fracasso,
bloqueiam a inteligência. Eles registram o fracasso intensamente nos solos do
inconsciente, através do fenômeno chamado RAM, registro automático da memória
(Cury; 1998).
O
mecanismo é o seguinte: o fracasso é lido continuamente, gerando reações
emocionais dolorosas e idéias negativas que obstruem a liberdade de pensar, de
fazer novos planos, de acreditar no próprio potencial. A derrota não superada
esmaga os sonhos e dilacera a coragem.
Golpes
inevitáveis
Mas
a alegria de A.L. logo se dissipou no calor das suas perdas. No ano seguinte
sofreu uma perda irreparável. Sua noiva morreu. Sua mãe havia morrido cedo, e
agora nunca mais veria o rosto da mulher que amava.
A
perda roubou-lhe não apenas a alegria, mas produziu algumas janelas kíllers na
sua memória. Killer quer dizer "assassino" (a). Janelas killers
são zonas de conflitos intensas cravadas no inconsciente que bloqueiam o
prazer e a inteligência. Quando entramos nessas janelas reagimos como animais,
sem pensar. Elas são construídas através de perdas dramáticas, frustrações intensas,
angústias indecifráveis que não são superadas.
Ergueu-se das Cinzas
Aos
poucos voltou o encanto pela existência. Desejou ser útil à sua sociedade,
porque não via outro sentido para a vida. Sob a chama desse ímpeto,
candidatou-se a deputado federal. Preparou-se para uma grande vitória. Sorriu,
andou, discutiu mais os problemas sociais. Então, veio o resultado.
FOI
DERROTADO.
Sua
alma ficou apertada. Sentia-se sufocado. Olhava para os lados, achando que as
pessoas comentavam seu fracasso. A sociedade é rápida para bajular os que estão
no pódio e lenta para apoiar os derrotados.
Cuidado!
Se você depender muito dos outros para executar seus sonhos, corre o risco de
ser um frustrado na vida. Os jovens precisam estar alertas. Eles são exigentes
para consumir, mas não sabem construir seu futuro, são frágeis e dependentes.
Alguns
achavam que o sonho de A.L. era um mero entusiasmo. Mas ele se reergueu. Seus
sonhos eram sólidos demais para fazê-Io ficar submerso nos escombros dos seus
fracassos. Alguns anos mais tarde o sonho de ser um grande político renasceu.
Candidatou-se novamente.
Fez
uma campanha com a segurança e ousadia. Gastou saliva e sola dos sapatos como
ninguém. Pensou: "Desta vez serei um vencedor." Estava animadíssimo.
Após uma extenuante campanha, veio o resultado.
PERDEU
DE NOVO.
Foi
um desastre emocional. Ao vê-Io passar, as pessoas meneavam a cabeça. Os mais
próximos diziam: "Pare de sofrer! Faça outra coisa!" Muitos jamais
entrariam numa outra disputa. Mas quem controla o sonho de um idealista? Eles
são os mais teimosos do mundo. Uma dose de teimosia é fundamental para ser realizado
na vida. Todos os sonhadores foram persistentes, amaram a disputa.
Nos
países desenvolvidos, como EUA, Japão, Inglaterra, Alemanha, há uma crise na
formação de pensadores e de líderes idealistas. Por quê? Porque os jovens não
têm grandes desafios para enfrentar, não têm obstáculos para superar, crises
para vencer. Por terem poucos desafios sonham menos e têm menos compromisso social.
Se
eliminarmos o contato de uma pessoa com todos os tipos de vírus, um dia, quando
ela se expuser ao mais banal deles, poderá não sobreviver. Não é isso que temos
feito com nossos jovens?
A.L.
teve de enfrentar a humilhação das derrotas, os deboches dos amigos, o
sentimento de incapacidade. Tudo isso feriu sua psique, mas educou a emoção
para suportar crises e perdas.
Adquiriu
anticorpos intelectuais. Um bom profissional se prepara para os sucessos, um
excelente se prepara para o fracasso.
Em
seu livro O príncipe, Maquiavel comentou que as atitudes revelam
oportunidades que a passividade teria deixado escondidas. A história nos ensina
que as pessoas passivas sucumbem às suas desculpas e submetem-se aos seus
temores. Os sonhos são o melhor remédio para curar frustrações. Se sólidos,
eles podem ter mais eficácia do que anos de psicoterapia.
Eles
reeditam o filme do inconsciente e ampliam os horizontes do desanimado, fazendo
renascer a motivação para recomeçar tudo de novo.
Nosso
sonhador emergiu do caos. Ninguém acreditava, mas A.L. decidiu enfrentar mais
uma campanha para o congresso. Nunca se viu tanta garra. As injustiças sociais
e a discordância das desigualdades humanas geravam nele uma fonte inexplicável
de energia para correr riscos. Agora havia mais fé e mais experiência. Corrigiu
os erros de outras campanhas e tornou-se mais sociável. Finalmente veio o resultado.
PERDEU
MAIS UMA VEZ.
Nos
dias que se seguiram, A.L. afundou no pântano do seu pessimismo. Sentia-se
arrasado, dilacerado, impotente. Perguntava se inúmeras vezes: "Onde eu
falhei? Por que as pessoas não confiam em mim?" Não se concentrava no mundo
concreto. Havia momentos em que queria fugir do mundo. Entretanto, quem pode fugir
de si mesmo?
Quando
as pessoas o viam, elas comentavam a meia voz uma para as outras: "Lá vai
o Senhor Fracasso." Havia amargado diversas derrotas eleitorais, falências
e perdas. Sua coleção de fracassos era mais do que suficiente para fazê-lo
vítima do medo. Por muito menos, pessoas ilustres escondem a cabeça debaixo do travesseiro.
Ele
deveria também se colocar como vítima do que os outros pensavam e falavam a seu
respeito. Se muitos perdem noites de sono por um olhar atravessado, uma
injustiça, uma censura, imagine como estava o território da emoção desse
sonhador.
A
sociedade é ótima para exaltar os que têm sucesso e rápida para zombar dos
fracassados. Quem almeja ter uma personalidade saudável não deve esquecer essa
lei: não espere muito dos outros. Todos entenderiam se ele desistisse das suas
metas. Era o mais recomendável. Vencer parecia um fenômeno inalcançável.
Entretanto,
quando todos esperavam que ele não se erguesse mais, A.L. se levantou das
cinzas. Não era propenso a aceitar idéias sem passá-Ias pelo filtro da sua
crítica.
Mostrou,
assim, uma coragem poética, embriagada de sensibilidade. Para muitos sua
coragem era ilógica, para ele era o combustível que mantinha acesa a chama dos
seus sonhos.
Ele
apareceu na roda dos políticos e, para espanto da plateia, teve a coragem de se
candidatar para o senado. As derrotas, ao invés de destruir sua autoestima,
realçavam seu projeto. A campanha foi diferente. Sua voz estava vibrante.
Deixou de ser refém de algo que facilmente nos aprisiona: nosso passado.
Acreditou
que romperia a corrente de fracassos e que o sucesso beijaria os solos da sua
história. Mas não queria o sucesso pelo sucesso. Não era um político dominado
pela coroa da vaidade. Os que amam a vaidade são indignos da vitória. Os que
amam o poder são indignos dele. Ter sucesso para estar acima dos outros é mais
insano do que as alucinações de um psicótico.
A.
L. tinha uma ambição legítima. Ele queria o sucesso para ajudar o ser humano.
Queria fazer justiça para os que viviam no vale das misérias físicas e
emocionais. Sonhava com o dia em que todos fossem tratados com dignidade na sua
sociedade.
Após
extenuante campanha, onde expôs inflamado suas idéias, aguardou impacientemente
o resultado. Não podia perder dessa vez. Se isso acontecesse, até seus
adversários teriam compaixão dele. Então, veio
o
resultado.
PERDEU
OUTRA VEZ.
Ao
chegar em casa, sentou-se numa cadeira, não sentindo o próprio corpo. Era difícil
acreditar em mais esse vexame público. Sua memória se tornou árida como um
deserto. Faltavam flores no palco da sua mente e sobravam pensamentos
pessimistas. Qualquer psiquiatra e psicólogo clínico, por menos experiência que
tivesse, entenderia seu medo do futuro. O amanhã tornou-se um pesadelo.
Uma coragem incomum
Muitos
jovens, quando vão mal numa prova, entram em crise.
Outros,
quando são traídos pelas namoradas ou namorados, choram como crianças. Alguns
adultos, quando não cumprem suas metas no trabalho, ficam insones. Outros,
quando são abandonados pelo parceiro ou parceira, se acham os últimos dos seres
humanos. As perdas deveriam nutrir o "eu" para fazê-Io mais forte e
não submisso, mas freqüentemente não é isso o que acontece.
O
caso de A.L. era mais grave. Não dava para exigir grandes atitudes de um
colecionador de perdas. As opiniões se dividiam em relação a ele. Algumas
pessoas supersticiosas acreditavam que ele estava programado para ser
derrotado. Outras, fatalistas, acreditavam que seus fracassos eram decorrentes
de seu destino previamente traçado. Para elas, uns nasceram para o sucesso,
outros para o fracasso.
Entre
as supersticiosas e as fatalistas havia unanimidade: todas concordavam que ele
deveria se conformar com seus fracassos, mudar de cidade, de país, de emprego.
O conformismo, em psicologia,
chama-se
psícoadaptação. O fenômeno da psicoadaptação é a incapacidade da emoção
humana de reagir na mesma intensidade frente à exposição do mesmo
estímulo. Quando nos expomos repetidamente a estímulos que nos excitam
negativa ou- _Positivamente, com o tempo
perdemos
a intensidade da reação emocional. Enfim, nos psicoadaptamos a eles.
Nós
nos psicoadaptamos ao celular, ao carro, ao tipo de roupa, à decoração de nossa
casa, aos conceitos, aos paradigmas sociais.
Assim,
perdemos o prazer e procuramos inconscientemente novos estímulos, novos
objetos, novas idéias. Só conseguimos voltar a ter prazer se reciclamos nossa
capacidade de observar e valorizamos detalhes não contemplados. No aspecto
positivo, a psicoadaptação gera uma revolução criativa.
Nos
estimula a procurar o novo, amar o desconhecido. Ela é um dos grandes fenômenos
psicológicos inconscientes responsáveis pelas mudanças nos movimentos
literários, na pintura, na arquitetura e até na ciência.
Todavia,
quando a psicoadaptação é exagerada, ela gera insatisfação crônica e
consumismo. Nada agrada prolongadamente.
As
conquistas geram um prazer rápido e fugaz. Aqui está uma das maiores armadilhas
da emoção. Por isso, não é saudável que os pais deem muitos presentes para os
filhos. Eles se psicoadaptam ao excesso de brinquedos. O resultado é maléfico!
Consomem cada vez mais coisas, mas obtêm cada vez menos prazer.
Outra
grande armadilha da emoção é a psicoadaptação às violências sociais, aos
ataques terroristas, à competição no trabalho, às brigas conjugais, aos
fracassos profissionais, a depressão, pânico, ansiedade. A consequência?
Perdemos a capa A.L. tinha tudo para se psicoadaptar aos seus fracassos.
Poderia se colocar como um supersticioso, achar que era um desafortunado, sem
sorte. Mas ele considerava que a verdadeira sorte não é gratuita, mas a que se
constrói com labuta.
Poderia
ainda se posicionar como um fatalista, culpar o destino e achar que estava
programado para ser infeliz. Neste caso, não teria forças para sair do seu
caos. Mas não se psicoadaptou, não abdicou do seu direito de decidir seu
destino, de fazer escolhas. Você tem tomado às decisões que julga necessária?
Ele
vivia o conteúdo de uma frase que todos os grandes pensadores vivenciaram:
"Os perdedores veem a tempestade, os vencedores veem por trás das densas
nuvens os raios de sol”.
Ele
estava ferido, mas não vencido. Estava abatido, mas não destruído. Estava
mutilado, mas almejava correr a maratona. Sua coragem era quase surreal, beirava
o inacreditável, mas trazia lhe saúde psíquica.
Suas
flagrantes derrotas, ao invés de se tornarem um pesadelo, tornaram-se um
romance pela vida. As suas crises de ansiedade tornaram-se como ondas que se
debruçavam sobre a praia da sua história e produziam marcas de maturidade.
Tornou-se um ser humano de raríssimo valor. Encontrou grandeza na sua pequenez.
Você tem encontrado grandeza na sua pequenez?
Nosso
sonhador não pintava quadros, mas desenhava pensamentos.
Não
esculpia madeira, mas esculpia idéias animadoras. Era um artista da vida.
Alguns amigos recomendavam que ele se aquietasse, tivesse pena de si, não
corresse mais riscos. "Tudo tem limite", diziam. Em alguns momentos
precisamos mostrar uma coragem extraordinária.
Quando
lhe pediam silêncio, de repente ele gritou mais alto.
Sonhou
em concorrer como vice-presidente do seu país. Vice presidente?
Um
ultraje! Porém, ele tinha algumas das cinco características dos grandes gênios:
1
- Era persistente na busca de seus interesses;
2
- Animava-se diante dos desafios;
3
- Tinha facilidade para propor idéias;
4
- Tinha enorme capacidade de influenciar pessoas;
5
- Não dependia do retorno dos outros para seguir seu caminho.
Quem
dera a educação moderna ensinasse menos matemática, física, química, biologia,
e mais a arte de pensar. Nossos alunos teriam algumas dessas nobilíssimas
características da inteligência. O mundo seria menos engessado.
Através
de seu magnetismo, A.L. entrou nessa nova campanha. Já que não estava na linha
de frente, estaria mais protegido, faria uma campanha mais segura, menos tensa.
Como vice-presidente estava mais preservado. Mas teria que propor seu nome na convenção.
No dia da votação sua ansiedade aumentou. Começaram a contar os votos da
convenção. Não demorou muito para sair o resultado.
RECEBEU
UMA FLAGRANTE DERROTA.
Sua
presença causou espanto e reflexões. "Ali não era lugar para os perdedores,
mas para os vencedores", pensavam alguns. Outros imaginaram que A.L.
estivesse lá para assinar uma carta pública anunciando que abandonaria para
sempre seus sonhos. Outros ainda conjecturavam que ele estava ali para suplicar
um emprego público.
Para
surpresa de todos, o derrotado arrancou calafrios dos seus colegas ao
manifestar o desejo de candidatar-se novamente para o senado.
"Candidatar-se
para o senado!" "Uma atitude absurda!" "Acorde!"
"Olhe para seu passado e mude de direção!”.
Foi
preterido. Muitos pensaram que ele certamente contagiaria com seu derrotismo o
candidato à presidência. A verdade crua a respeito daquele homem era que ele se
tornara um dos maiores colecionadores de fracassos da história. Raramente
alguém tentara tanto e raramente alguém perdera tanto.
Os
amigos se afastaram. As pessoas não esperavam mais nada dele. As janelas
killers produziam o cárcere da emoção. Sua autoestima estava quase zerada, seu
encanto pela vida, combalido.
O pessimismo o envolveu.
Começou
a crer que uns nasceram para a vitória e outros para o fracasso, uns para o
palco e outros para a plateia. O que você faria depois de tantos fracassos? O
que você faria se fosse abandonado pelas pessoas mais próximas? Que atitude
tomaria se fosse despedido do emprego em que colocou todo o seu futuro? Que
reações teria se atravessasse uma crise financeira tão grave que não tivesse
nem dinheiro para pagar o aluguel da casa? Qual seria sua postura se fosse criticado
publicamente e as pessoas ao seu redor desacreditassem completamente de você?
Muitos simplesmente desistiriam dos seus sonhos.
Há
uma grande diferença entre o individualismo e a individualidade.
O
individualismo é uma característica doentia da personalidade, ancorada na
incapacidade de aprender com os outros, na carência de solidariedade, no desejo
de atender em primeiro, segundo e terceiro lugar aos próprios interesses. Em último
lugar ficam as necessidades dos outros.
A
individualidade, por sua vez, é ancorada na segurança, na determinação, na
capacidade de escolha. É, portanto, uma característica muito saudável da
personalidade. Infelizmente, desenvolvemos freqüentemente o individualismo, e
não a individualidade.
(Um escultor de
idéias) um artista da vida
A.
L. desenvolveu uma individualidade madura. Ele queria dirigir seu barco, mesmo
diante das turbulências. Não era radical. Não era agressivo. Não era
egocêntrico. Era apenas Um sonhador.
Queria
simplesmente ser fiel àquilo em que acreditava.
A.L.
tornou-se o "Senhor Fracasso". Grande parte das pessoas acreditava
que o "Senhor Fracasso" não teria mais aparição pública, muito menos
na roda de políticos e partidários. De repente, entrou na sede do partido um
homem de cabe Alguns têm sucesso, mas não são fiéis à sua consciência.
Conseguem
altas somas de dinheiro de maneira escusa. Brilham diante dos holofotes, mas
por dentro são opacos. Quem não é fiel à sua consciência tem uma dívida
impagável consigo mesmo.
Apesar
do péssimo currículo das suas derrotas, nosso sonhador fez uma campanha
primorosa para o senado. Estava determinado a vencer. Nas ruas, as pessoas
gritavam "derrotado"; nas praças, "perdedor". Mas ele
olhava para dentro de si e procurava forças no mundo intangível dos seus
sonhos.
Para
A.L., cada disputa era um momento mágico. Estar na disputa era mais importante
do que o pódio. Os que valorizam o pódio mais do que a disputa não são dignos
de subir nele. Ele acreditava que a vida era uma eterna conquista que possui
ganhos e perdas. Nos sucessos tomamos o cálice da alegria, nas ruínas bebemos o
cálice das experiências. Desta vez esperava tomar o cálice da alegria.
Finalmente
chegou o dia da votação. Aguardou com expectativa incomum o resultado das
urnas. Desta vez tinha de ser diferente.
FOI
NOVAMENTE DERROTADO.
O orvalho almejando ser a chuva de
verão: a grande lição
Algumas
pessoas apostavam que ele se exilaria numa zona rural ou em alguma ilha.
Outras, menos cruéis, acreditavam que ele poderia vir a ser, com muita
dignidade, dirigente de um asilo ou de um lar de crianças.
Havia
quem pensasse que ele deveria trabalhar numa repartição pública, fazendo
tarefas repetitivas e esperando o magro salário do final do mês sem reclamar e
reivindicar melhores condições. Um dia se aposentaria e viveria calado a
humilhante condição de não conseguir pagar suas contas com a baixa pensão
recebida.
Embora
a sociedade o considerasse um representante típico da espécie dos fracassados,
do ponto de vista psicológico nosso sonhador foi um grande vencedor, ainda que
não tivesse vencido nenhum pleito eleitoral. Foi um vencedor do preconceito, da
discriminação, do deboche social, das suas inseguranças.
As
pessoas superficiais veem os resultados positivos como parâmetros do sucesso,
enquanto que a psicologia avalia o sucesso usando como critérios a motivação, a
criatividade e a resistência intelectual. Diferente da maioria das pessoas, ele
lutou pelos seus sonhos até a última gota de energia. A.L. foi vitorioso. Schopenhauer
afirmava que jamais deveríamos fundamentar
nossa
felicidade pela cabeça dos outros (Durant, 1996).
A.L.
seguiu esse princípio, pois se gravitasse em torno da opinião dos que o cercavam
estaria condenado ao ostracismo, ao completo isolamento social. Os piadistas o usavam como personagem
principal das suas ironias.
Diante
do tumulto social, ele entrou no único lugar protegido do mundo: dentro de seu
próprio ser. Lá ele se calou e fez a oração dos sábios:
o
silêncio. Você conhece a força dessa oração?
Não
tinha o que falar. As lágrimas deixaram o anonimato e escorreram pelas vielas
do seu rosto. Escondia a face, mas chorou muito. Era um ser humano apaixonado
pela sua sociedade, mas não tinha uma oportunidade de ajudá-Ia.
As
janelas killers deveriam estar assassinando sua capacidade de pensar,
dilacerando sua coragem, dissipando seu ânimo e produzindo uma reação íntima
que atestava que ele era o mais infeliz dos homens. Parecia que desta vez A.L.
se entregaria, chegara ao limite. Faria qualquer coisa, menos se candidatar a
qualquer cargo nem para o clube dos fracassados. Seria controlado pelo fantasma
do medo e pelo monstro da derrota.
Só
o silêncio poderia conter sua indecifrável frustração, entretanto nasceu no
coração dele o desejo de ser presidente, de ajudar as pessoas.
ABRAHAM
LINCOLN candidatou a contra gosto dos otimistas, mas para a surpresa de todos,
ele foi eleito Presidente dos Estados Unidos.
Abraham Lincoln foi um dos maiores sonhadores
de todos os tempos. Teve todos os motivos para abandonar seus sonhos, mas, apesar
de todas as lágrimas e das incontáveis frustrações, jamais desistiu deles.