Com o objetivo
de desmascarar as várias faces do preconceito e da discriminação, chamamos a
sociedade para um debate sobre a difusidade do tema acerca da cultura Afro e Indígena.
Para propor soluções educacionais que possam ser inseridas no seio da
sociedade, a fim de minimizarem os problemas raciais brasileiros, os quais causam
grandes traumas na vida de milhares de crianças negras e indígenas.
Os traumas
causados pela discriminação na psique de uma criança são tão violentos quanto
um estupro, mas não de um corpo, e sim da consciência moral da criança, a qual
passa a sofrer de complexo de inferioridade, se tornando retraída com baixa-
estima.
De acordo com
Augusto Cury, médico, psiquiatra e escritor há uma grande variedade de
fenômenos que contribuem para a formação da personalidade.
O
"self" se refere a "consciência de si mesmo", a consciência
de que existimos e possuímos uma "identidade" única e exclusiva, a
consciência de que pensamos e podemos administrar os pensamentos e as emoções.
Essa autoconsciência
existencial é o primeiro passo na formação da inteligência, contudo é
necessário inserir informações na memória das crianças, para que possam fazer
uma leitura da coexistência macrossocial, e que elas fazem parte da protocélula
da sociedade, e construam um conceito de cidadania que transcenda as
perspectivas sociais, as definindo como o exercício dos direitos políticos de
um cidadão em uma determinada sociedade.
De modo que as
crianças sejam ensinadas que para ser cidadão é preciso ser solidário,
altruísta, tolerante, e respeitar as diferenças etnoculturais. Por isso, é
muito importante que o governo se mobilize através da reestruturação do sistema
educacional qualificando os docentes para ensinarem acerca da cultura afro-brasileira
e indígena.
Palavras-chave: Educação, Preconceito, Discriminação, Cultura Afro-Brasileira e Indígena.
- O
ensino sobre a diversificação cultural deve fazer parte da grade curricular das
escolas.
O ensino sobre a
diversidade cultural deve fazer parte da grade curricular do ensino
fundamental, pois criaria na mente da criança o conceito de igualdade entre
negros, brancos e amarelos, entretanto o que se nota é a omissão do governo
quanto ao combate à discriminação racial. Além disso, alguns materiais
distribuídos pelo MEC são depreciativos a cultura negra, pois transmitem uma
imagem negativa do negro, sempre o associando ao mal.
Por isso é
necessário rever a qualidade das disciplinas que compõem a grade escolar, e ao
mesmo tempo qualificar professores que possam ensinar as crianças sobre o
multiculturalismo, pois somente a educação é capaz de eliminar as diferenças.
Entretanto,
ainda, é necessário transpor as barreiras de uma sociedade preconceituosa, que
pratica um preconceito subjetivista, o qual pode ser notado nas entrelinhas
através de piadas depreciativas, que denigrem a imagem do negro.
A marginalização
do negro na história do Brasil é um fato que precisa ser desconstruído pela
educação, por isso é importante que o ensino acerca da diversificação cultural
faça parte da grade curricular das escolas.
Para desmistificar
a imagem negativa que foi criada sobre o negro, foi feito um estudo acerca do
caso Ari um estudante de Pos-graduação que foi reprovado por causa de
discriminação racial.
Em
1998, Arivaldo Lima Alves do curso de Doutorado do Departamento de Antropologia
da Universidade de Brasília (UnB), foi reprovado em uma disciplina obrigatória,
mas em 20 anos daquele programa de pós-graduação nenhum aluno havia sido
reprovado, então o Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão forçou o departamento
a rever a menção e ele foi aprovado, com base nesse episódio o seu orientador,
o professor José Jorge de Carvalho, elaborou
no ano seguinte à primeira proposta de Quotas, que é o embrião do
sistema tão questionado.
O caso Ari revela que as quotas têm como
principal objetivo a acessibilidade ao conhecimento das culturas que foram
subjugadas e marginalizadas.
De acordo com Sócrates
existe só um bem, o saber, e só um mal à ignorância, entretanto, o processo de
aprendizado é construído, a partir, de informações.
Segundo o psicólogo Abraham Maslow há quatro níveis de aprendizado:
Ignorância inconsciente: É o ponto inicial onde todos começam o processo de aprendizado, entretanto estamos
inconscientes de que não possuímos nenhum conhecimento.
Ignorância consciente: É quando estamos conscientes de que não sabemos nada.
Conhecimento consciente: Quando estamos conscientes do nosso conhecimento,
mas não exercemos domínio total sobre ele.
Conhecimento inconsciente: Quando exercemos total domínio do conhecimento de
forma natural.
Portanto, ao longo da história o acesso ao
conhecimento foi negado às culturas afro e indígena, e por isso é necessário
que haja reparações não financeiras como foi o caso de Israel que recebeu uma indenização
da Alemanha por causa do holocausto, mas sim de acessibilidade ao conhecimento.
Todavia quando os negros se unificam na busca do conhecimento, as pessoas o
rotulam de coitadistas, pois não querem que eles tenham conhecimento.
- A
imposição do estereótipo europeu como padrão de beleza e de sucesso.
A
BORBOLETA (Odylo Costa, Filho)
DE MANHÃ BEM
CEDO
UMA BORBOLETA
ERA PARDA E
PRETA
FOI BEBER NO
AÇUDE
VIU-SE DENTRO DA
ÁGUA
E SE ACHOU TÃO
FEIA
QUE MORREU DE
MÁGOA.
ELA NÃO SABIA
- BOBA - QUE
DEUS
DEU PARA CADA
BICHO
A COR QUE
ESCOLHEU
UM ANJO A LEVOU,
DEUS RALHOU COM
ELA,
MAS DEU ROUPA
NOVA
AZUL E AMARELA
Infelizmente
essa literatura infantil que faz apologia ao estereótipo europeu de forma
subjetiva foi distribuída pelo MEC no Paraná, e ao analisar o paradoxo entre o
casulo e sociedade, percebe-se que a borboleta já saiu de lá sendo discriminada
e rotulada por um padrão de beleza existente dentro do casulo, ou seja, da
sociedade da qual ela fazia parte, portanto ao se autoanalisar começa a
acreditar naquilo que lhe foi dito dentro do casulo, pois ninguém que acaba de
nascer tem a pré-concepção do significado de beleza.
Este é um
pequeno exemplo do descaso das políticas públicas ao preconceito sofrido pelas
culturas afro-brasileira e indígena, e que a literatura que deveria combater o
preconceito, está fazendo apologia ao mesmo.
-
A Nulificação do Negro e do Índio
Durante
anos o direito a cidadania de negros e índios foi negado, eles foram tratados
como a escória do Brasil, mesmo fazendo parte da construção histórica, cultural
e econômica do país. Negros e índios foram marginalizados, e suas culturas foram
ocultas das pessoas.
As
políticas sociais se esqueceram dos filhos do solo que trabalharam para a
construção do Brasil, se esqueceram da escravidão, e da dizimação de vidas
inocentes. Nulificaram a história afro e indígena, negaram o acesso a cultura
desses dois povos e desprezaram o conhecimento que eles possuíam e implantaram
a sua visão como única portanto, sem respeitarem as diferentes culturas, os
diferentes costumes e as diferentes interpretações do mundo.
Procusto,
segundo a mitologia dos gregos antigos, era um malfeitor que morava numa
floresta na região de Elêusis (península da Ática - Grécia). Ele tinha mandado
fazer uma cama que tinha exatamente as medidas do seu próprio corpo, nem um
milímetro a menos. Quando capturava uma pessoa na estrada, Procusto amarrava-a
naquela cama. Se a pessoa fosse maior do que a cama, ele simplesmente cortava
fora o que sobrava. Se fosse menor, ele a esticava até caber naquela medida.
A simbologia por trás desse mito representa a intolerância
diante do outro, do diferente, do desconhecido. Representa uma visão de mundo
totalitária daquele sujeito que quer modelar todos os seres a sua própria
imagem e semelhança. É a recusa da multiplicidade, da diversidade, da
criatividade, da originalidade.
Procusto ou “as cegueiras do conhecimento” esteve
presente, por exemplo, na consciência dos juízes de Sócrates, quando o
condenaram a morte por ter “corrompido” a juventude ateniense; esteve presente
também no imaginário dos soldados romanos que perseguiam e matavam cristãos por
seguir uma religião que se opunha ao paganismo e a figura sagrada do Imperador
e continuou presente no Tribunal da “Santa” Inquisição que condenou à fogueira
todos àqueles que eram contrários aos seus dogmas: Giordano Bruno, Galileu
Galilei (foi poupado por ter negado suas teorias científicas).
Esta consciência dos reis absolutistas também
esteve presente até com Joana D´arc, além de estar nas revoluções burguesas, no
processo de escravidão mercantil, na formação dos partidos nazifascistas, no extermínio de milhões de judeus nos campos
de concentração de trabalho, nas Guerras Mundiais, na dizimação de índios, na
tortura de negros... (só para citar alguns poucos exemplos...).
O espírito de Procusto esteve presente em várias
etapas de nossa História e ainda continua atormentando a Escola tanto quanto o
processo educativo, em outras palavras, está presente na consciência humana
produzindo “cegueiras”, erros e ilusões acerca do conhecimento quanto às
questões raciais.
Os Procustos nulificaram os seus semelhantes causando dor e
sofrimento ao longo da história, por querer que todos se encaixem dentro da sua
ideologia.
O
paradigma da Sujeição x A liberdade do Conhecimento
Um novo tipo de
negro vem despontando no decorrer dos anos, alguém que luta por seus direitos,
que exerce sua cidadania, mas essas mudanças só ocorrem por causa do
conhecimento, pois enquanto o negro não possuía conhecimento ele vivia debaixo
do paradigma da sujeição privado de direitos básicos de sobrevivência.
O negro
brasileiro estava debaixo do cárcere da sujeição, servia apenas como um animal
de carga no exercício das atividades mais pesadas, quem não já ouviu a frase:
“Amanha é dia de
Negro”
Esta frase
sintetiza como o cidadão negro era visto pela sociedade, um ser serviçal sem
cultura e sem conhecimento, alguém capaz de desenvolver apenas atividades
braçais.
E sob a ótica da
sociedade brasileira os negros não possuíam potencialidades intelectuais,
durante esse período foram poucos negros que se destacaram.
Contudo, ao
adquirirem conhecimento eles aos poucos foram rompendo as amarras da sujeição,
e não se conformaram em serem tratados de forma inumana simplesmente por terem
um pouco mais de melanina no DNA.
Hoje negros não
aceitam mais informações do tipo leite com manga faz mal, e também não devem
aceitar e se submeter às idiossincrasias escritas por pessoas que querem implantar uma nova
filosofia cultural baseada na cultura e nos costumes americanos.
- Conclusão
Há exatamente
cento e vinte quatro anos a Lei Áurea era assinada dando aos negros escravos a
conotação de “liberdade” e após cento e vinte quatro anos de abolição é duro
admitir que a liberdade do negro não é completa, temos que suportar os
detrimentos de um passado obscuro que nos acompanha como se fosse uma sombra.
Quando os
arquitetos de nossa Constituição Federal elaboraram a lei suprema de nosso
Estado, deixaram descrito na mesma que “todos são iguais na forma da lei” sendo
vedada qualquer forma de discriminação.
No entanto vemos que são meras palavras,
quando a Constituição foi elaborada seus arquitetos estavam nos dando um cheque
no qual poderíamos descontar quando precisássemos e quando vamos descontar (os
negros) ouvimos a justificativa de que o saldo é insuficiente e que não há
dinheiro para nos ressarcir.
Porém devemos
nos recusar a acreditar que os bancos da “justiça” estão falidos e que as
grandes empresas de oportunidades deste país abriram concordata. Não podemos permanecer
aprisionado em um local frio e cálido, onde não há luz e tendo que ficar com
grilhões nos pés e mãos, silenciados pela sociedade hipócrita, as quais dizem o
Brasil é um país de todas as cores.
Todavia, isto
não é levado em consideração quando um negro está em um shopping ou em um
mercado, sendo olhado por todos como se tivesse com arma em punho pronto para
assaltar. Infelizmente essas situações são verídicas, e há uma poesia que
reflete a trajetória do negro e do índio:
Contos
e Saudades da minha Terra
Nas
horas frias do inverno,
Sempre
me pego imaginando,
De
como os portugueses,
Chegaram
nesta terra; Navegando.
Mudaram
a cultura indígena,
Roupas
os fizeram vestir,
Inventaram
de catequizá-los
Como
se eles não tivessem um deus a seguir
Os
índios foram escravizados,
E
sua cultura violentada,
Suas
mulheres foram estupradas,
E
suas vidas sacrificadas.
Os
negros da África vieram,
E
com eles o banzo também;
Uma
doença que os faziam morrer de amargura,
Por
não amar mais a ninguém
Suas
lágrimas lavaram esta terra,
Seu
sangue maculou este chão,
Tudo
isso aconteceu;
E
a culpada é a escravidão
O
pranto para eles era eterno,
Carregando
em seu acalanto,
O
sofrimento e a veemência,
De
que tudo um dia acabaria
Grandes
líderes e guerreiros,
Entre
eles nasceram,
Mas
pouco a pouco morreram também;
Zumbi
dos palmares é seu nome,
Foi
traído por um beijo também,
Sua
vontade era salvar o seu povo.
E
acabar com a escravidão,
Mais
isso, não foi possível;
Porque
foi traído por um irmão.
Deus
fechou seus olhos por alguns instantes;
E
por isso a escravidão aconteceu,
Hoje
o negro sofre o preconceito,
Por
seus antepassados, que já morreu.
Nas
senzalas; nasciam os filhos bastardos dos grandes Senhores.
Nas
senzalas e nos terreiros;
Ficaram
ocultas a podridão da escravidão.
O
negro há muito foi humilhado,
Mas
hoje em dia isso acabou,
O
negro tanto lutou pra conquistar seu lugar na sociedade,
E
com humildade esta sendo exaltado.
Como disse um
poeta desconhecido: “ De repente não muito mais que de repente o vento da
liberdade parou de soprar e ao abrir meus olhos estava no mesmo lugar”, ou
seja, há liberdade dentro de nós e vamos continuar lutando para que ela seja
completa.
Olá! Precisa fazer a citação de onde tira "seus" textos. Sou ator do trecho que expõe "Procusto ou as cegueiras do conhecimento”. Peço para que faça a menção de autoria, pois plágio é crime...
ResponderExcluirAtenciosamente,
André Wagner Rodrigues