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terça-feira, 31 de julho de 2012




A QUEDA DE SATANÁS E AS NOSSAS QUEDAS SATÂNICAS!...


Paulo nos diz que a queda de Satanás deu-se em razão da soberba; e quando assim afirma faz uma advertência quanto a que não se “ordenasse” ninguém espiritualmente imaturo para o ministério do serviço aos santos; ou seja: à Igreja.

Na realidade pouco se sabe sobre essa “Queda de Satanás”, exceto pelas referencias arquetípicas que aparecem em Isaías e Ezequiel, a primeira relativa à soberba de Babilônia e a segunda concernentemente à soberba do Rei de Tiro.

No mais, não fosse pela alusão que Paulo faz à soberba do diabo e sua queda [laço], pouco ou nada se teria, posto que tudo o mais nos venha das construções judaicas extra bíblicas e do aproveitamento delas pelos primeiros “pais da Igreja”.

No entanto, havendo, como de fato há a figura real de Satanás, pouca coisa faz tanto sentido espiritual e psicológico, como atribuir sua “queda” ao pecado da soberba; ou seja: ao seu Narcisismo; e, nesse caso, a lenda grega do Narciso seria a versão não bíblica do fenômeno satânico do auto-encantamento com a própria beleza, grandeza, poder e formosura, o que refletiria o Inconsciente Coletivo Humano como fonte de informação de tal ocorrência oculta nas sombras da Bíblia.

O fato, todavia, psicologicamente, é simples: toda criatura dotada de dons especiais corre o risco de surtar de paixão por si mesma!

E mais:

Seja isto relacionado ao que quer que seja, porém, inevitavelmente este é um fenômeno que nunca se desvincula dos poderes da genialidade, da inteligência, da beleza, da força de persuasão, do charme encantador, do poder de influenciar, da capacidade de se fazer maior, ou melhor, aos demais.

Entretanto, em nenhum espaço psicológico tal fenômeno encontra melhor ambiente de expansão do que na “vivencia do divino”; ou seja: na experiência do santo, do ungido, do espiritualmente elevado, do superdotado de dons; sejam dons de sabedoria, de conhecimento, de profecia, de milagres, de curas, de persuasão pela palavra..., etc.

A alma humana tem no Sublime que se aplique à criatura a sua maior e mais insidiosa tentação!...

É quando a criatura se acostuma a ser tão especial, que, não se esquecendo de si mesma, todavia, se esquece apenas da Fonte de Origem da Graça que a tornou tão especial.

Este é o pecado da virtude; o pecado da maravilha; o pecado da beleza [seja ela de que nível e perspectiva possam ser]; o pecado do poder que influencia e mobiliza; o pecado dos contemplados; o pecado dos seres singulares; o pecado dos celebrados; o pecado dos ungidos; o pecado dos profetas; o pecado dos líderes; o pecado dos que carregam oráculos; o pecado dos mestres; o pecado dos gurus; o pecado dos mensageiros que passam a crer que a mensagem é deles!

Ora, em qualquer ambiente da existência tal pecado se oportuniza; porém, quando acontece de ele ser vinculado explicitamente ao “divino”, então, sua potência e profundidade não têm termos de comparação.

Um homem ou mulher belo; um indivíduo rico materialmente; um político influente; um artista extraordinário; um empresário de sucesso; um grande proprietário; que frequentemente se tornam arrogantes, altivos, soberbos e enfatuados; porém, nunca no nível dos que associam seus poderes aos da “divindade”.

Quando, porém, a “virtude” decorre da “representação” de Deus na existência, então tal surto se torna incontrolável em suas expressões de grandeza e delírio!...

Até mesmo os grandes reis e imperadores, ou mesmo líderes políticos como Hitler, precisaram de alguma forma de “unção divina” para que seus surtos de grandeza atingissem os níveis satânicos que alcançaram; e isto pode ser verificado em exemplos que nos vêm da antiga Suméria, dos gregos clássicos, dos babilônios, dos persas, dos romanos, dos papas cristãos, dos profetas e mulás políticos do islã, ou mesmo dos governantes políticos ungidos do protestantismo.

Entretanto, nada se compara em dissimulação de virtude satanizada e oculta aos que exercem os papéis de ungidos do Senhor nos ambientes da religião; seja ela grande ou pequena; seja a partir de uma grande catedral ou no fundo de um quintal; seja com estolas e aparatos ou apenas com chapéu de palha na cabeça; mas se o povo olhar para tal pessoa como o representante de Deus, então, inevitavelmente Satanás ali encontrará o seu lugar de instalação gradual e poderosa.

Daí a ênfase do Novo Testamento ser no Corpo de Cristo, e não em indivíduos como expressão de dons, carismas e poderes!

Sem que os dons sejam um exercício coletivo de poderes e graças, no Corpo de Cristo, todos surtam e tudo se sataniza. Sim; ninguém escapa!

Ora, até mesmo na coletividade do Corpo de Cristo, sem que o espírito simples de diaconia e serviço sejam a regra áurea, o surto inevitavelmente aparece; não na expressão do “eu sou”, mas na ufania do “nós somos”.

Não foi à toa que Noé, o salvador do mundo antigo tenha sido profanado sexualmente pelo seu filho Cão, pois, do contrário, seria mais do era como homem aos nossos sentidos; ou que Abraão tenha vacilado e duvidado, tomando Hagar para mulher, pois, do contrário, seria uma emanação de Deus no mundo; ou que Moisés tivesse que ter sido relativizado pela desobediência, não entrando na Terra da Promessa, pois, de outra feita, ele seria o Cristo; ou que Jó tenha tido suas iras e raivas expostos ante a tortura dos seus “amigos”, pois, sem que assim o fosse, ele nos seria “o varão de dores, e que sabe o que é padecer”; ou que Davi, o homem segundo o coração de Deus, tivesse que ter mostrado a sensualidade do seu coração de homem, pois, de outra forma, seria o rei dos reis; ou, para não irmos longe demais, que Pedro não tivesse negado e vacilado em algumas ocasiões, pois, em assim não tendo sido, seria mesmo, para todos, o Papa dos Papas; ou que Paulo não tivesse que ter carregado um espinho na carne, pois, de outro modo, seria um Médium entre o 3º céu e os homens.

São as revelações dessas desvirtudes humanas que salvam alguns humanos muito especiais de terem o destino de Satanás!

Aquele, porém, que não confessa os seus pecados, ou que não tem a benção de que eles sejam percebidos, ou que venha a dissimulá-los muito bem, em geral demonizam-se gradualmente sem que o percebam; e, mais adiante, tornam-se satanases de tropeço para si mesmos e para o povo.

Daí também a ênfase de Jesus em que o maior se tornasse o menor; que o mais elevado fosse o servo de todos; que o mestre fosse o que lavasse os pés dos demais; e, sobretudo, que se buscasse um lugar de humilhação diante dos homens, para que pudéssemos ser exaltados diante de Deus.

Sim; Jesus não apenas nos mandou sermos humildes de espírito, mas mesmo ordenou que nos humilhássemos diante dos homens; pois, do contrário, o coração de qualquer um viaja da vaidade à soberba sem que a pessoa note.

É somente em fraqueza que o poder de Deus pode se aperfeiçoar em nós; posto que a nossa natureza humana seja essencialmente satânica quando exposta ao “divino” sem que o seja em fraqueza.

O caminho da glória de Deus em nós é o caminho da nossa relativização consciente e confessada; bem como é a vereda do gloriarmo-nos nas nossas próprias fraquezas; pois, somente assim, em fraqueza, seremos fortes no poder de Deus.

Assim, somos remetidos para o caminho da fraqueza, do arrependimento que se confessa, da debilidade que se declara, da condição humana que não se esconde; e, sobretudo, somos remetidos a buscarmos em nós “o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”; a fim de não cairmos no caminho satânico da usurpação do que é de Deus e em nós esteja por Sua absoluta Graça.

Desse modo, quando vemos pessoas exaltando seus dons, ou convidando outras para provarem de seus poderes carismáticos; ou ainda: estimuladas pessoas a irem ao “lugar/divino/instituído para a manifestação do poder de Deus; saibamos que estamos sendo cantados e seduzidos pela voz do próprio Satanás.

Olhemos para Jesus, que nunca fez propaganda de Si mesmo; e que não permitia que se divulgasse o que Ele mesmo fazia; posto que andasse segundo o Pai, e não segundo o diabo.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

BRINCANDO DE FELICIDADE NESTE MUNDO CEMITÉRIO!




Os poderes deste mundo são esmagadores. Seu Príncipe um dia disse a Jesus que tal poder lhe fora dado; afirmando assim que este mundo é do diabo; e, por mundo, entenda-se o sistema de poder e as mecânicas de troca e de controle que existem na sociedade humana, como o dinheiro, a política, a propaganda, os processos de indução da mente, e todos os valores e dês-valores pelos quais os seres humanos existem; alguns deste pseudo-valores dissimulados como honra, outros como reputação, outros como sucesso, outros como estética, outros como cultura, outros como religião, outros como moral, outros como justiça, outros como leis, outros como imagem, outros como propriedade, outros como obrigação para com as convenções estabelecidas, outros como normalidade, outros como direito pessoal, outros como Direito Instituído, outros como comercio, outros como negócio, outros como moda, outros como fama, outros como admirável nome, outros como dever, outros como qualquer que seja a forma de poder a se ter e praticar uns sobre os outros...

É, no mínimo, de tais coisas que vêm as forças que controlam os homens; ou seja: o mundo!

Sim; é por tais realidades estabelecidas que se mata, se vinga, se odeia, se divide, se sai à guerra, se constroem armas, se imagina o engano como propaganda, se desenvolvem as ciências da manipulação; e, consequentemente, é daí também que nascem as frustrações, os medos, os sentimentos de inadequação, as invejas, as comparações, os cultos ao ter e ao poder, as angustias, as fobias, as desordens psíquicas, os surtos de supremacia e hegemonia, as vontade do capricho, a idolatria, as carências, os descontentamentos, e o afã por se fazer qualquer coisa para que se não fique para trás...

Foi por isto que Jesus disse que o Seu Reino não era deste mundo; e nem poderia ser; posto que os valores, as importâncias desta ordem de coisas, sim, todas elas, jazem no maligno, como disse o apóstolo João.

Assim, ser mundano é ser guiado pelo espírito deste mundo e pelas suas importâncias; cultuando os ídolos objetivos e subjetivos criados pelo Grande Fabricante de Importâncias de Existências que não são Vida; a saber: o Diabo!...

É impensável, mas todos nós somos mais possuídos pelo espírito deste mundo do que desejamos admitir; e, para nós, parece que a existência fica sem graça sem que nos entreguemos a tal espírito e suas buscas de felicidad como obtenção ou ostentação.

Jesus, no entanto, nunca propôs um caminho de alienação; visto que orou ao Pai: “Não te peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal”.

Desse modo, é no mundo que tenho de viver, ao invés de me alienar dele; porém, existe uma vida que atravessa o mundo sem que dependa dos mecanismos e dinâmicas de valores e significados que o impulsionam, bem como animam aos seus alienados seguidores; sim; dos seguidores do curso deste mundo...

Ora, tal vida no mundo, porém sem que se o siga, é aquela única vida que vemos em Jesus e no Seu caminhar humano!

Jesus é Aquele que viveu no mundo, sem anticépticos, mas que, ao mesmo tempo, passou por ele livre do mal; deixando-nos o exemplo de como tal caminhar se torna em vereda de vida para nós.

Paulo disse que uma das realidades que nos caracterizariam como gente no mundo, mas livres deles, seria a capacidade de vivermos em estado diário de desapego.

Desapego! Sim; a afirmação de importância capital feita por Paulo é esta: “Que os casados sejam como se não o fossem; que os que se alegram como se não se alegrassem; que os que choram sejam como se não chorassem; os compram, como se nada possuíssem; os que se utilizam deste mundo, como se dele não se utilizassem” [citação livre].

Desapego; posto que a aparência deste mundo passa; e tudo o que nele se vende não perdura; posto que seja feito para iludir e não satisfazer jamais...

Além disso, este mundo é afirmado no Evangelho como sendo um cemitério de diversões e de ilusões; daí se afirmar que ele jaz; ou seja: que ele está morto no jazigo do engano das aparências...

Tudo passa; tudo se esvai; tudo logo perde seu brilho; tudo perde sua importância; tudo vira história, conto; e isto na melhor das hipóteses; sim; posto que tudo seja miragem; tudo seja vaidade e correr atrás do vento em plena alegria de insanidade...

Ora, é apenas quando essa compreensão espiritual nos controla a mente e as interpretações da existência que se começa a colocar o pé no caminho, na vereda, no chão do desapego.

Pois tudo passa rapidamente e nós voamos” diz o Salmo!

No fim, o que faz diferença não é ter conhecido a Terra toda, mas seu próprio coração até onde seja possível!

Sim; no fim o que importa não são os muitos conhecimentos, mas os verdadeiros vínculos de amor fiel e leal.

No entanto, para muitos que me leem, viciados que estão nas drogas existenciais do espírito deste mundo, dependentes que se tornaram nos alteradores de consciência do Grande Traficante, tais palavras parecem com os dizeres de um moribundo e desenganado.

Todavia, apesar de todas as vias que se procure, eu sei, e sei pelo Evangelho e pela própria existência, que estas palavras, e que não são minhas, provar-se-ão irrebatíveis e implacáveis!

Os infelizes que se tornaram sábios já sabem que elas são verdadeiras; os sábios que não se entregaram as infelicidades também sabem da veracidade delas; os velhos que aproveitaram o tempo para refletir concordam com elas também; os jovens que tenham crido mais na Palavra do que nos testes das tentações, também sabem acerca da infalibilidade do que aqui se afirma.

A maioria, entretanto, parece precisar entregar-se ao engano a fim de que, enganados e desiludidos, venham a aprender o que está estabelecido pela Experiência do Criador; sim, Daquele que nos fez, e sabe como e para o quê nos criou.

Eu, porém, sei que muitos terão que se arrebentar a fim de darem crédito a tais palavras.

Enquanto isto, fala-se; mas sabe-se também que nada substitui a dor ungida pela Graça nas noites escuras das desilusões. E muitos parece deixarem o encontro com a Verdade de Deus para as portas do Hades!

quinta-feira, 26 de julho de 2012

A GENEALOGIA DA ESPERANÇA HUMANA!




Se seguirmos as sequenciam bíblicas, tudo começa num jardim. De lá se é expulso, e, assim, começa a História: fora do jardim.

Agora a preocupação é tirar da terra o pão. Em seguida percebe-se que a humanidade de súbito cresce e se complexifica, e isso num ambiente estranho, no qual há gigantes e uma insinuação acerca de anjos que se misturam com mulheres. Por tal ocorrência os humanos se pervertem e vem o Dilúvio.
 

Assim, a humanidade registrada pela Bíblia recomeça sua jornada a partir de Noé e seus filhos: Sem, Cão e Jafé. De Sem procedem os semitas, grupo do qual Abraão é originário, de Ur dos Caldeus, na Mesopotâmia.

Em Abraão a “humanidade” é esquecida como um todo, e a história se concentram no veio semítico que tem em Abraão seu representante nas narrativas da Bíblia. Os demais povos só interessam como “gente do lugar”. Abraão se faz errante, caminhante, nômade, e, portanto, hebreu: aquele que cruza...
 

Assim é dito que sua descendência é feita escrava no Egito e que de lá saiu 430 anos depois, pelas mãos de Moisés, e peregrinam pelo deserto por 40 anos, até que morre toda aquela geração, incluindo Moisés; e, pelas mãos de Josué, os Hebreus entram na Terra Prometida: terra de cananeus, heveus, gebuseus, amorreus e enaquins, entre outros.
 

A terra é apenas “em parte” possuída por eles. Vivendo em estado de conflito, Deus lhes suscita juízes, que são apenas “homens da hora”, mas não há governo institucional de nenhuma natureza a uni-los.
 

Eles olham os povos à volta e pedem que o profeta Samuel lhes consiga um rei. Samuel é contra. Ele queria que Deus reinasse sobre eles. Mas Deus mesmo disse a Samuel que não era o profeta quem estava sendo rejeitado, mas Ele. Assim, depois de explicar como o rei teria poderes e privilégios que tornariam a sociedade injusta nas suas distribuições de renda e poderes, Samuel encontrou Saul. Mas como o coração de Saul enlouqueceu e surtou com o poder, Deus lhes proveu um novo rei, chamado Davi.

Em Davi a narrativa se foca ainda mais num nível especifico: a prevalência de Judá, tribo de Davi, sobre as demais. De Davi em diante os hebreus vão se tornando a nação de Israel. Em Salomão, filho de Davi, os antes hebreus agora já possuem um rei e um templo-estado.
 

É pelo surto de idolatria, grandeza e poder manifestos pela insensatez do sábio rei Salomão que o reino da casa de Davi é dividido. Há o "racha": dez tribos se ajuntam ao norte, no reino de Israel, e as duas do sul, Judá e Benjamim, passam a formar o reino de Judá. A preeminência religiosa e cultural do reino de Judá, ao sul, é óbvia na leitura da Bíblia.
 

Nesse ponto começam a pipocar profetas, levantando-se, em geral, contra o rei e contra o Templo e aquilo que ele estava significando religiosa e politicamente. Os reis se tornaram idólatras e perversos. E o templo, um lugar de poder político e de perversão da fé, existindo apenas para cumprir ritos.
 

Então, por tais coisas, tanto o reino do norte como o reino do sul, a seu tempo, são levados para o cativeiro. Os do reino norte voltaram “misturados”, e acabaram por se tornar “os samaritanos”. Já os do reino sul, tiveram assistência exortativa, consoladora e profética de alguns profetas dentro e fora do cativeiro, o que os ajudou a voltarem mais “integrais” à sua terra, 70 anos depois.
 

Daí para frente, Israel nunca mais viveu em autonomia. Estiveram sob todos os impérios tiranos da terra. E quando Jesus veio ao mundo, eram os romanos que davam as cartas no planeta.
 

Então, em meio a um povo que cria ser o mais especial do mundo, e que aguardava sua libertação e o cumprimento de todas as palavras dos profetas, os quais garantiam que se Israel deixasse os ídolos, e se convertesse a Deus, o Senhor lhe enviaria o Libertador, o Messias, apareceu Jesus de Nazaré.
 

“Ele veio para o que era Seu, mas os Seus não o receberam”.
 

No entanto, Jesus não tentou “ajudar” quanto a ser compreendido. Não se vê, da parte Dele, nenhuma tentativa de didaticamente “demonstrar” como as profecias também tinham Nele seu cumprimento. E às questões que lhe são postas, a maioria delas irresistíveis para qual ser humano que tivesse o que dizer e explicar, ou mesmo facilitar, são respondidas por Ele ou com outras questões ou apenas por parábolas.
 

Assim, o modo de Jesus tratar a questão revela completamente o modo de Deus ser em relação às questões levantadas na História.
 

Ele diz que é a Verdade, e não divaga filosófica e teologicamente sobre o tema. Perguntado sobre o que era a Verdade, Ele apenas olhou fundo nos olhos de quem indagava: Pilatos. Ele Jesus era a Verdade. Se tentasse explicá-la, Ele a mataria e a tornaria num sistema filosófico. Assim, para Ele, era uma questão de ver ou não ver, mas não de explicar. A Verdade não era explicável, do ponto de vista de Jesus, mas apenas discernida pela fé; ou seja: era uma revelação.

O modo como Jesus trata a questão da História e do futuro da humanidade também acontecem em total paradoxo.
 

Por um lado, Ele manda viver em paz, confiar, se alegrar, fazer o bem, curar, dar copos d’água, abrigar, hospedar, levantar o caído, abrigar o estrangeiro ou o estranho, visitar os doentes, buscar justiça para os injustiçados, fazer a paz entre os irreconciliados e anunciar que Deus estava reconciliado com os homens, Nele.
 

Porém, por outro lado, Ele diz que o futuro é cheio de convulsões, de guerras, de revoluções, de nação contra nação, de contorções naturais, de terremotos, de
 tsunamis, de fumaceira que cobriria o sol e a lua, de sangue nas estrelas... Enquanto isso, muitos se diriam “o Cristo”, e, também, a fé genuína Nele iria desaparecer da Terra. Somente depois de todas estas coisas é que o Filho do Homem volta com as nuvens dos céus, e o reino de Deus toma forma visível na Terra. 

Desse modo, em Jesus, a História é experimentada como paradoxo para os Seus discípulos, os quais lutam pelo bem na terra, mas olham para algo que só pode se materializar na terra se Deus vier reinar nela e se a morte for abolida como sinal da corrupção humana.
 

Assim, em Jesus, temos uma escatologia demonstrada como factível em razão de sua Ressurreição dos mortos. Se Jesus não ressuscitou, não há esperança para a humanidade, pois, nesse caso, tudo acaba sempre em morte e corrupção. Mas se Ele ressuscitou, então um “fator” novo é introduzido na História, e por tal novo fator é que a escatologia de Jesus, a qual termina com a chegada do que é do Céu na Terra, se torna factível, posto que a História já teria experimentado na Ressurreição de Jesus a abertura desse Portal.
 

Desse modo, em Jesus, a História Humana é contada até a morte. Porém, é vencida como fatalismo, e nela é introduzida a factibilidade da Nova Jerusalém, a qual pertence à Ordem da Ressurreição.
 

Pois assim como todos morreram em Adão, assim todos terão a ressurreição em Cristo. Só ficarão fora dessa nova realidade aqueles que a rejeitarem depois de a terem de fato visto. E quando digo “visto”, refiro-me a um critério que só Deus possui. Ou seja: a igreja não sabe quem viu e quem não viu.

Se não tivesse havido a Ressurreição, Jesus seria apenas mais uma estatística histórica, e a História seria apenas uma estatística a se auto-aniquilar na inevitabilidade da vocação suicida que lateja na alma da humanidade.
 

terça-feira, 24 de julho de 2012

SOBRE DIVÓRCIO


Nós lemos Mateus 5: 31 e 32 e pensamos nele com nossas categorias ocidentais, posteriores à predominância política do Cristianismo sobre este lado do planeta, impondo não uma nova consciência, mas apenas uma nova Moral.

Todavia, quase nunca levamos em consideração o contexto no qual Jesus disse esta palavra. Naqueles dias, embora a poligamia e a bigamia tão constantes no Antigo Testamento ainda existissem, desde o exílio em Babilônia que ela vinha diminuindo por questões econômicas, como é obvio! Todavia, ainda que ambas não fossem a norma para a maioria, na prática, no entanto, era ainda uma consciência prevalecente.

Prova disso é que em João 8, no episódio da mulher adultera e Jesus, não se apresenta o “homem” com quem essa “adultera”, adulterara. “Ele”, o homem, estava isento das pedradas. Mas a mulher estava lá, seminua ou nua, exposta a todos.
Portanto, quando Jesus diz que a Lei dizia que um homem poderia descartar a sua mulher dando-lhe uma carta de divórcio, Ele falava isto a uma assembleia machista, que praticava isto com muita alegria e facilidade. Tudo era motivo para se divorciar. Literalmente, por qualquer motivo, como vemos em Joaquim Jeremias e outros especialistas (Mt 19:3)

Isto para não falarmos na briga doutrinária que havia, nos dias de Jesus, entre as escolas de Shamai e Hillel em relação ao tema em questão. Era o reino da banalidade relacional.
Nesse caso, o que Jesus diz, levando-se em consideração o “contexto historio”, é basicamente o seguinte:

1) Se, para vocês, a mulher é adúltera quando trai o seu marido, dando-se fisicamente a um homem, todavia, vocês, os homens, cometem muito mais adultério pelo modo “natural” como olham e desejam mulheres (MT 5: 28);
2) Neste mundo onde o homem “descarta” a mulher  sem direitos a mesadas e a patrimônio, estigmatizada pela Moral vigente e, praticamente, entregue a sobreviver como pudesse a única clausula, de permissão ao divorcio era se a esposa traí-se o marido; ou seja: “... em caso de adultério” (5: 32b). Nesse caso, o homem poderia dar a ela carta de repudio e divorcio. Naqueles dias, mulheres não se divorciavam dos homens. Era a Lei.

3) A razão, portanto, tinha a ver com o estigma que a “repudiada”, a divorciada, carregaria, naquela sociedade, daí para frente. Ao homem era permitido por qualquer motivo desamparar a esposa, repudiando-a, e, então, depois disto, era-lhe “lícito” escolher outra mulher e seguir adiante com sua vida. Não era sempre bigamia, mas era sempre uma monogamia sucessiva. Ela era extremamente praticada até que Shamai, um rabino, se levantou contra aquela injustiça, discutindo os “motivos justos para dar uma carta de divorcio”, que, à semelhança de Jesus, para ele, também era o adultério.
Todavia, a preocupação era com o estado de desamparo no qual ficava a mulher repudiada-divorciada, pois, para todos, ela passava a ser fadada a nunca mais amar ninguém e nem ter ninguém, apenas porque alguém não a quis mais, por qualquer motivo.

Esta é a razão pela qual Jesus após denunciar o adultério subjetivo de todos os homens diz que a preocupação era com expor a mulher a tornar-se adultera (Mt 5: 32c), e, também com “aquele” que, porventura, à ela se ajuntasse, pois, ele também, passaria a ser visto como o marido da repudiada.

Numa sociedade onde o homem tinha todos os privilégios, incluindo o de ter uma segunda esposa caso a pudesse sustentar, descartar a esposa e entrega-la ao mundo com uma letra R, de Repudiada, escrita na testa, e, ainda, esperar que ela vivesse de vento, expunha-a a tornar-se adultera—fosse pela necessidade de ser sustentada por alguém, fosse pela realidade de ter encontrado alguém. Assim, em Mt 5: 27-28, Ele iguala a todos no nível do adultério subjetivo.

Já em Mt 5: 31-32, Ele nos mostra como uma vítima da dureza de coração de um homem que descarta e não cuida da vida humana que ao seu lado esteve pode, numa sociedade regida pela Teologia dos Fariseus, ser ainda mais desgraçada.

O “repudio” do homem tornava a mulher, no mínimo, uma “repudiada” e, no caso dela prosseguir com a vida sem ter que se entregar à mendicância, e a exporia a ser vista, para sempre, como adultera. 

Dessa forma, Jesus afirma duas coisas: primeira, a seriedade do vinculo entre dois seres humanos numa relação de casamento; e, a segunda, a possibilidade de que a alma humana pudesse se endurecer tanto, que usasse a do outro, e depois, simplesmente a descarta-se, sem cuidado e sem proteção. 

Em outras palavras: Jesus não entrou na questão da Lei até Moisés teve mais de uma esposa, mas na questão da misericórdia, e, sobretudo, no tema da descriminarão Moral do infeliz; e, também no tema da Teologia dos Fariseus e a sua dureza predatória suas Leis de causa e efeito da infelicidade, que, naquele caso, era uma Lei animal, que tratava a companheira como lixo.

sexta-feira, 20 de julho de 2012


QUEM FEZ VOCÊ CRER NO SUCESSO DA IGREJA SEGUNDO ESTE MUNDO?

O que Jesus veio fazer neste mundo teria falhado? Sim, é justo que se pergunte isto ante o que Sua mensagem e feitos [...] realizaram na experiência da existência histórica dos humanos ou coletivamente na História humana?

É verdade que Ele disse que o mundo odiaria a Sua Palavra e aos que por ela vivessem; e também que a melhor chance que o mundo teria de crer que Ele fora enviado pelo Pai seria mediante a prática simples do amor entre os Seus seguidores; e mais: é também verdade que Ele parecia crer que quando Ele voltasse outra vez [o Filho do Homem], não haveria fé na Terra.

Também é verdade que Ele disse que o Seu Caminho/Porta era estreito, e que apenas poucos entrariam por ele; e também é fato que nas Suas mensagens proféticas não se encontra nenhum traço de “vitória” associada ao que Ele chamou de “minha Igreja” [...] como ente a impor-se sobre o mundo.

É ainda inequívoco que Ele tenha dito que o futuro não aguardava os Seus discípulos com nenhuma Era de Paz e de Amor entre os homens; ao contrário, as Sua Palavras nos falam de ódio, divisão, de irmão entregando irmão; de casas divididas; dos inimigos do homem serem os da sua própria casa; e que Ele mesmo não viera trazer paz à Terra, mas espada.

Sim, a leitura das Palavras de Jesus não nos acende na alma a esperança de controlarmos os poderes do mundo, nem das nações, e nem da Civilização humana; antes disso, no indica um caminho de fé entre poucos, uma vereda discreta, um pequenino rebanho, algo como o voar de vagalumes na escuridão da noite.

Nos evangelhos não encontramos essa Palavra de Vitória de Jesus sobre os Poderes da História, sobre o Mundo; e nem tampouco qualquer insinuação de que a Sua Igreja seria vitoriosa sobre as forças do Príncipe deste mundo como fenômeno de supremacia do bem sobre o mal.

Não, nem os evangelhos e nem o Apocalipse nos descrevem tais cenários. Portanto, outra vez, pergunto: de onde, pois, eles nos vieram, ao ponto de que hoje pensemos que alguma coisa tenha falhado?

Até ao 4º Século desta Era nenhum discípulo cria que viveria para ver a Igreja ser qualquer coisa além de um Fermento, uma Luz, um Sal na vastidão da terra, um Pequeno Rebanho entre Lobos, uma pequena Semente que cresceria como sombra e lugar de agasalho; mas não de triunfo.

Ora, e isto tudo ainda em meio a divisões internas, a apostasias, a negações, perversões e mortes espirituais de muitos grupos que, antes haviam crido, mas que, ante a imposição “da espera” [...] perderiam a fé; e, portanto, escandalizar-se-iam, trairiam, desistiriam; ou, então, tornar-se-iam “maus” e aproveitadores dos demais — conforme várias parábolas de Mateus, Marcos e Lucas nos deixam ver...

Todavia, o paradigma foi mudado para sempre nas falsificações das esperanças da Igreja que foi virando “igreja”, quando o Império Romano ungiu a “Igreja” e criou o “Cristianismo” como poder terrestre e mundano.

É daí que vem esse surto de Vitória Visível da Igreja de Jesus na Terra; e, consequentemente, a busca por tal poder entre os homens —; ou, em meio á frustração de não conseguir realizá-lo, a não ser pela espada e pelas forças do Príncipe deste mundo, vem a descrença, o sentimento de fracasso, de inviabilidade do Evangelho e da Igreja no mundo; instalam-se como descrença e cinismo na alma dos que antes criam e amavam.

Sim; tal sentimento decorre de que a Igreja passou a pensar como “igreja”, e de que o Evangelho tenha sido entendido como uma revolução inescapável a impor-se sobre os principados e potestades dos sistemas do planeta.

Desse modo, cada novo cristão se converte crendo que sua geração mudará o mundo; e que o que não aconteceu no passado, acontecerá hoje; e mais: crendo que a “vitória” da Igreja sobre o Império Romano provou tal possibilidade [...]; não enxergando eles jamais o oposto; ou seja: que, ali, naquela virada [ou melhor: naquela emborcada], quem estava sendo definitivamente derrotada era aquilo que até então, com todos os problemas previstos nas profecias, era, na sua fraqueza, forte; e na sua fragilidade e falta de densidade, invencível; a saber: a Igreja na sua melhor expressão histórica até então.

Sim, o Imperador Constantino se tornou o pai do sonho de supremacia da Igreja sobre o mundo; e, desde então, todos os grupos cristãos anelam pela volta de tais dias, ou mesmo pela reimplantação deles na sua geração. Daí os cristãos terem-se por tão honrados quando um governador se “converte”, ou quando uma “autoridade eclesiástica” é elevada de maneira pública, ou quando à “igreja” um poder politico atribua importância, significado e força histórica.

Jesus, todavia, nunca nos deu a menor margem de crença em tais coisas até ao fim. Jamais! O que Nele vemos é que apesar de tudo a Igreja não seria destruída e que as Portas do Inferno não prevaleceriam contra ela; mas, em momento algum, se vê Jesus afirmando que a Sua Igreja criaria um Milênio; algo como um impor da verdade e do amor sobre as forças do mundo e da história; ou ainda que ela tornar-se-ia reconhecida como o Oráculo divino falando aos homens.

Ao contrário, ao ouvirmos o que Jesus disse, o que percebemos é que tais possibilidades de “vitória” sempre seriam sinais de apostasia da fé; sempre seriam a declaração de que se teria aceito a cooptação das forças do Príncipe deste mundo; sempre seria algo que apenas nos poria no lugar de ungir a Besta no papel de um Falso Profeta.

Para Jesus, o reino de Deus não se manifestaria com demonstrações visíveis, mas invisíveis e interiores; seria um poder no olhar, no espírito, na existencialidade; seria algo somente discernível por quem tivesse nascido da água e do espírito; e que aconteceria sempre sob o signo do desprezo e das muitas batalhas.

Quanto a não permitir que qualquer impressão de supremacia da Igreja como Potestade se instalasse na mente dos Seus discípulos, Ele afirmou: “Não será assim entre vós; antes, o maior seja o menor; o grande seja o que sirva; o poderoso seja o fraco do amor e da entrega”. E, lhes lavando os pés, disse: “Compreendeis o que vos fiz? Eu vos dei o exemplo!”
Pedro já advertia os discípulos dos seus dias, e que começavam a sofrer e a perguntar quando seria o tempo da vitória, dizendo-lhes que não lhes parecesse que algo teria dado errado, posto que o Senhor lhes garantisse que seria como estava justamente acontecendo...; e disse também que por tal equivoco de esperança surgiriam muitos perguntando “onde está a esperança da Sua vinda?”; ou mesmo indagariam acerca do “poder da Sua Presença” entre os homens...; visto que tudo continuara como desde o principio da criação que se pervertera.

Em Mateus 24 e 25 todas as Parábolas de Jesus nos falam de uma “espera” devastadora e desalentadora; de tal modo que alguns ficariam “maus e abusivos”, outros “dormiriam de desesperança”, outros “enterrariam seus dons de amor”, outros somente O veriam em “cenários sagrados” ou predeterminados; daí não serem capazes de vê-Lo entre os pobres, marginalizados, desterrados, doentes, abandonados e não desejados desta existência.

O fenômeno da Hermenêutica Constantiniana de interpretação do significado histórico da “Igreja” foi algo tão poderoso, e continua a ser, que, para muitos, parece que a mensagem de Jesus falhou; especialmente agora, quando o mundo se torna pós-cristão; ou seja: torna-se pós-constantiniano.

Jesus, no entanto, nos disse que a Igreja estaria aqui; e que testemunharia; e que morreria; e que não desistiria; e que não seria enganada; e que não viveria de contabilidades de poder humano; mas da força do Espírito e do olhar do Reino instalado nos corações de todos os que viram e entraram no Mistério do Indiscernível do Reino de Deus em sua atual manifestação não disponível ao mundo.

Enquanto isto [...], Jesus disse que o Espírito sopra aonde quer... [...], e que ninguém sabe de onde Ele vem ou para onde Ele vai... [...]; mostrando-nos assim que a Igreja é um ente levado [...]; e que para além do que ela própria veja [...], existe o que somente Deus vê; coisas essas nas quais os discípulos têm apenas que crer; crer enquanto servem, amam, esperam, se entregam, se sacrificam; nunca se deixando vencer do mal, mas sempre vencendo, em suas vidas, o mal com o bem.

É, portanto, o espírito do mundo, de Satanás, do Príncipe que oferece poderes terrenos [...] — aquele nos lança em surtos de “vitória terrena da Igreja” sobre as aparentes forças da História.

É a mesma voz que se fez ouvir no “alto monte” ou no Capitólio Romano nos dias de Constantino [...] a nos falar que existe um mundo a ser “conquistado” pela Igreja de Deus!

Para a verdadeira Igreja de Deus este mundo, com seus poderes, é apenas o lugar da morte, do sacrifício, do testemunho, do amor não correspondido e do serviço por nada; exceto pela obediência; posto que assim como foi com Jesus seria conosco; e isto conforme Ele próprio disse e repetiu em inúmeras formas e ocasiões diferentes.

Se esse paradigma diabólico, completamente presente nas falsas esperanças, no discurso e na prática da “igreja”,  não der lugar ao que Jesus disse que seria e aconteceria [...], até mesmo a verdadeira Igreja terá seu poder minado pelo engano; havendo cada dia menos luzes de esperança e gosto de sal no testemunho do amor neste planeta marcado para o Grande Dia da Revelação.

Eu, porém, enquanto escrevo estas linhas, sinto o vento, e percebo seu bulício; por vezes mudando de direções [...], mas sinto que ele sopra em sua independência, visto que vejo o mover das árvores; sim, balançando ora pra lá, ora pra cá; e, algumas vezes, como agora, aparentemente parando de moverem-se... Mas eis que outra vez vem o vento!... Agora uma brisa sob meus pés... Sim! O mover não cessa nunca!

Desse modo entendo meu lugar na vida e no mundo segundo Jesus!

Sim, não sou o Gerente do Vento; nem sou o indicador do seu caminho; nem tampouco aquele que sabe quando e de onde ele virá. Não! Apenas o constato. Apenas o aproveito. Apenas celebro sua soberania invisível. E, conforme disse Jesus, apenas creio que do mesmo modo é todo aquele que é nascido do Espírito.

A Palavra de Jesus, portanto, não falhou; ao contrário, contra todos os esforços miseráveis, armados e dispostos a recorrer a todos os poderes deste mundo [conforme o tem feito o “Cristianismo” e ou a “Igreja” em todo este tempo], a Palavra de Jesus se impôs e prevaleceu; posto que ela teria falhado justamente se o Caminho dos Discípulos tivesse se tornado a Política Global deste Planeta; ou seja: se a ONU dissesse que é da “igreja” que procede a honra, a glória e o poder. Então era sinal de que o reino do anticristo estaria de fato definitivamente instalado.

domingo, 15 de julho de 2012

O Conto




“Vivia em uma mata junto ao rio Molan um leão idoso e sábio que, como líder dos animais que habitavam a terra, era grandemente respeitado entre todos. Devido aos longos anos de experiência em liderança, desenvolveu uma personalidade paciente, meticulosa, vagarosa, quase beirando a contemplação. Entretanto, era por demais ouvido entre todos quando levantava-se pensativamente de sua moita favorita usualmente dizendo: “Creio que sei o que deve ser feito !” Até seus rivais que o criticavam pelo seu jeito pacificador de ser, enxergavam nele uma fonte de sensatez. Havia apenas um pequeno e quase imperceptível defeito em sua personalidade o qual, por tão pequeno, não era por ninguém visto como erro mas sim como uma excentricidade, ‘até uma virtude’ -  diziam muitos: o leão odiava sujeira! Lama, restos de comida ou uma simples poeira o deixava irritado e descontente. Não chegava a ser, entretanto, suficiente para nenhuma discórdia ou discussão. No máximo um desabono como um balançar de cabeça ou um ligeiro suspiro de indignação.

     Descendo o rio, no topo de uma árvore pouco frondosa, morava o leopardo. Ele era esguio e vivaz. Alegre, contador de piadas e particularmente gostava de narrar engraçadas histórias sobre os habitantes do rio. Sendo o único animal de grande porte naquela parte da floresta era chamado em qualquer emergência e, mesmo sem a ponderação e experiência do leão, promovia soluções fazendo piadas dos problemas e tornando-os menos sérios. Quase nunca usava sua autoridade de mais forte e gostava de andar ao redor toda tarde prometendo aos macacos que eles seriam a sua refeição do dia seguinte se nada melhor aparecesse, o que gerava uma algazarra nas árvores enquanto ele dava boas risadas.

     Apesar de amigo e companheiro havia algo que o impedia de ter mais proximidade com outros animais. Ele ficava enraivecido sempre que alguém o fitava. Poderia conversar longamente com todos desde que ninguém olhasse diretamente em seus olhos, o que fazia com que ficasse irado e, com um rugido, saía mal-humorado. Mas todos, conhecendo esta particularidade, sabiam como tratá-lo e até brincavam entre si dizendo que ele ficara assim desde que vira sua própria face no espelho de água do rio Molan e admirou-se de como era feio. Era apenas uma versão entre os macacos que se divertiam com esta história durante As noites. Ninguém, nem mesmo ele, na verdade, sabia o porque desta irritação ao ser fitado nos olhos. Entretanto, conhecendo de antemão o seu temperamento, todos sabiam como tratá-lo e tudo corria bem naquela parte da mata.

    Mais distante, próximo ao pântano da ‘Árvore alta’ vivia Píton, a cobra. Dentre tantas outras cobras que habitavam aquela área, Píton era a maior, mais forte e mais inteligente dentre elas. Apesar de temida entre todos os animais, Píton não era de tão difícil relacionamento como imaginavam. Era séria, compenetrada e muito desconfiada, sem dúvida. Mas também sempre mostrava-se bem disposta a ajudar em momentos de crise. “Quando houve a última enchente”- reconhecem todos - “Píton foi a primeira a voluntariar-se para ajudar os animais que não conseguiam nadar”.  “Mas também fala disto até hoje!”- completam os mais críticos. Apesar de não ter a sensatez do Leão e a descontração do Leopardo, Píton era reconhecida como líder. “Um líder não deve ser temido, ranzinza e desconfiado”- lembravam os macacos, mostrando que lhe retirariam o cargo se pudessem. Era sabido que Píton, a cobra, possuía um grande complexo de inferioridade pelo fato de que, tendo que rastejar, ficava sempre mais baixa que os outros animais e muitos chegavam até a ignorar a sua presença. Certa vez um elefante quase pisou-a por não vê-la, o que causou grande indignação e desde então ela detesta ser tocada e sempre lembra a todos o seu lema: “Nunca pise em mim !”

     Certo dia surgiu um assunto de urgência que envolvia toda a floresta. Algumas hienas, temidas por todos os animais de bem, decidiram mudar-se para aquela região. Todos estavam preocupados e criavam muitos boatos e rumores sobre isto. O Leão, prevendo um estado de pânico, decidiu convocar uma reunião entre a liderança da floresta: ele, o Leopardo e a Píton iriam reunir-se junto à sua moita no dia seguinte.

     No dia esperado, logo cedo, chegou o Leopardo e como de costume fazia piadas do Leão chamando-o de  “Jubinha” referindo-se a um fato constrangedor e nunca mencionado pelos outros animais: o Leão nascera com menos pêlos em sua juba que outros da sua espécie. Fingindo ignorar as piadinhas o Leão chamou-o para baixo da árvore e ofereceu-lhe água do riacho que por ali passava. Logo em seguida, sutil e esguia, chegou Píton causando surpresa no Leão. “Não pensei que viria tão cedo” - comentou ele referindo-se aos constantes atrasos de Píton nas últimas reuniões de liderança.  Como sempre Píton permanecia calada e procurou calmamente o lugar mais úmido para se enrolar.

     Durante o dia o Leão, o Leopardo e Píton, a cobra, conversaram sobre todas as implicações da vinda das hienas para a floresta e, após ouvir longamente as inúmeras sugestões dos outros animais, estavam prestes a tomar uma decisão quando foram interrompidos pela comida que chegava.  “Pensei que era plano do Leão trazer-nos aqui para matar-nos de fome” - comentou o Leopardo entre risos. Comeram regaladamente e após tudo ser devidamente limpo decidiram descansar por um curto período antes de retomarem as discussões.

     Neste momento, enquanto Leão, Leopardo e Píton dormiam, surgiu sorrateiramente um pequeno inseto típico daquela parte da floresta chamado “Kintano”. É uma espécie de grilo com apenas 2 centímetros de tamanho e que costuma fazer um buraquinho na areia onde esconde-se nos momentos mais quentes do dia. Sem ser por ninguém percebido, Kintano pulou até o lugar onde Leão deitava-se sobre sua limpa e macia moita e começou a cavar o seu buraquinho com suas patinhas traseiras, lançando a areia para trás à medida que desaparecia dentro do seu abrigo.  Entretanto, com a força de suas patinhas, Kintano conseguiu arremessar aquela fina areia até o focinho do Leão o qual, cheirando a poeira, levantou-se de um salto julgando ser uma brincadeira do Leopardo, fitou-o bem nos olhos e num rugido gritou:

“Porquê me sujou ?   Você sabe como detesto sujeira !!”

O leopardo rosnou indignado: “Não sei do que está falando mas você sabe que odeio quando alguém me fita !”

Os dois começaram uma luta quando, não percebendo a Píton,  o leopardo a pisou com sua pata traseira fazendo-a acordar irada e gritando: “Não admito ser pisada por ninguém !”

O leopardo, mais jovem e forte, matou  o leão em uma tremenda batalha !  A Píton, sagaz, enlaçou o leopardo e o apertou até que morresse; entretanto, com tamanho esforço também não resistiu e também morreu.
Houve silêncio em toda a floresta. Como líderes tão bondosos, gentis e responsáveis chegaram ao ponto de se matar ? - Pertuntavam-se todos. Os animais da floresta, atônitos, abaixaram suas cabeças e dispersaram-se. E o Kintano...

O Kintano, após tudo acabar, saiu do buraquinho na areia, olhou ao seu redor e começou a pular em direção a outro vale, a procura de outros líderes em outras florestas.

‘U Mallenyaan nyen Kintan so. U nyen kenin, sedimaten, tob anun ni kagbaan pu na’

‘O Diabo é como o Kintano. Ele veio apenas matar, roubar e destruir’ - dizem os Konkombas.”


quinta-feira, 12 de julho de 2012













O QUE É AUTOENGANO?

Se o conceito clássico de Insanidade é fazer sempre a mesma coisa aguardando um resultado diferente dos muitos anteriormente alcançados [...] — então, Autoengano é fazer isto sem tal consciência consentida; ou seja: sem os jogos da sorte, como com frequência acontece com a Insanidade que faz a mesma coisa achando que terá resultados diferentes apenas porque, conquanto a coisa seja a mesma, o tempo é outro...; ou seja: tratando-se, nesse caso, de um novo jogo ou de uma nova sorte.

Autoengano, portanto, é a deliberação que nos faz fazer algo que, consciente ou inconscientemente, suspeitamos que não alcance os objetivos desejados, mas que, pela nossa boa intenção, desta vez, estabelecer-se-á diferente apenas porque cremos sinceramente que será diferente.

Autoengano, por tal razão, é uma deliberação da fé/crença; a qual crê que a boa intenção mudará o resultado das coisas!

Desse modo, podemos dizer que autoengano é um ato de fé/crença que assola o ser bem intencionado!...

Assim também se pode dizer que autoengano é uma deliberação das boas intenções, como se a boa vontade tivesse o poder de mudar o significado das coisas, independentemente de que as coisas tenham mudado ou não...

Autoengano não demanda a conversão da pessoa/sujeito de nossa esperança; ou do objeto do vínculo por nós pretendido; ou mesmo dos fatos em si [...]; mas, supostamente, depende apenas da nossa boa intenção!...

Os agentes podem ser os mesmos, mas se as intenções por nós auto definidas forem outras, nos parece [ilusoriamente] que houve uma mudança radical e objetiva das coisas ou das condições em questão.

Dessa forma, é o autoengano que nos faz crer que as mesmas coisas ou pessoas, sem alterações constatadas pelo tempo/fato/história — porém reunidas em outro tempo e outras superficiais circunstâncias —, automaticamente nos darão outro resultado [...]; diferente dos anteriores.

Pela mesma razão se pode dizer que autoengano é uma decisão mágica da alma boa; a qual, contra toda lógica e sabedoria, acredita que a boa intenção tem o poder de alterar a realidade, a nossa e a do outro; ou mesmo tem a capacidade de transformar as circunstancias implicadas na e da mesma decisão antes malfadada.

Autoengano, desse modo, é a mais sutil e dissimulada magia da alma!

Sim, das almas boas; posto que somente as boas almas sofram de tal esperança sem o peso da sabedoria. Ou seja: em tal caso, o autoengano é a deliberação da boa intenção apaixonada, ou crente de si mesma como fenômeno de sinceridade alteradora da realidade [...]; e isto contra os fatos e a sabedoria impostos pelo tempo e pelas experiências acumuladas.

Por tal constatação se pode dizer que autoengano é a deliberação da paixão ou do capricho do ser amante do bem, mas que ignora a realidade do outro ou das circunstâncias; ou seja: dos agentes coadjuvantes de sua esperança; o qual é... [ou os quais são], de fato, perversos agentes de sua ex-perança. Isto no caso de algo singular como um “ex/qualquer/coisa”; e que, portanto, trate-se de um “ex” contra toda esperança que se fundamente em fatos, mas apenas nas intenções mágicas do desejo santificado pela boa vontade!

É em tal engano que as almas boas caem todos os dias!

Sim, contra toda a sabedoria, contra as advertências dos Provérbios da Vida, e contra todo acumulo de entendimento! — lá se vão [...], aos milhares, santificando a insensatez pelas boas intenções!

Daí o autoengano ser tão sutil; posto que seja santificado pela boa intenção daquele que julga que sozinho pode mudar uma realidade que implique em dois ou até em muitos outros agentes envolvidos...

Todavia, apesar do que já disse, devo acrescentar que o ser humano frequentemente recorre ao autoengano como forma de auto-justificação, ou como alívio à frustração, ou como consolação na carência afetiva ou sexual [todos no nível quase total da inconsciência ou da quase total inadmissão consciente] —; isto, é claro, nos casos vinculados a relações sem futuro de felicidade ou comprovadamente inadequadas, mas que subliminarmente ainda se façam desejosas pela alma.

No caso do autoengano como elemento de auto-justificação, normalmente se percebe na alma uma forte dose de direito que se sente sonegado. Geralmente é quando o coração não foi de todo curado de algo pela total adesão dos sentimentos ou desejos às razões da mente/consciente [...]; e, assim, a tal coisa, pessoa ou experiência [...] em nós reaparece; e, para nós, se torna na nossa necessidade oculta de a ela responder positivamente [...], como uma forma de vingança ambivalente do nosso inconsciente — ainda que não se dê conta de tal sentir como forma ambivalente de vingança. Nesse caso, é como se a decisão um dia assumida em relação ao afastamento que decorreu da percepção de que tal coisa, pessoa ou experiência não nos serviam [...], volta sobre nós, só que agora como raiva existencial dissimulada, em razão de que não se tenha podido ter o que se almejava como um dia se pretendeu. Então a alma corre o risco de ceder e recorrer ao que já se tinha dado como equivoco [...], pela reação ambivalente e inconsciente da vingança em oposição à imposição da razão e dos fatos contra as imagens de um sonho que não se realizou conforme os nossos sonhos. Assim, a auto-justificação é aquela que afirma o capricho vingativo do desejo contra a existência e sua implacabilidade, da qual dela um dia nos confessamos convencidos, embora não de todo.

Quando se abre espaço para o autoengano como forma inconsciente de alívio ante a frustração, o mecanismo em operação não é vingativo, mas sim de profunda auto-piedade e auto-vitimização. Não se trata de direito à vingança existencial contra a implacabilidade da existência, mas sim de pena de si mesmo. Nesse caso, os mecanismos psicológicos em operação são mais leves e sutis; posto que na auto-vitimização inobjetiva [...] a alma apenas se adule como quem se embala em sua própria orfandade de sonhos não concretizados.

Porém, quando se recorre ao autoengano como expressão de carência afetiva e sexual, as forças operantes na alma são fortemente pulsionais e, portanto, passionais como cegueira de desejo[...]; o que faz com que o desejo seja em si mesmo a razão de tudo; e, em tal caso, todos os mecanismos lógicos e todas as razões cessam [...], dando-se assim espaço apenas à fome afetiva e ou sexual como causa de si mesma; e ponto final.

Entretanto, essas divisões são de natureza pedagógica, posto que por vezes os três fatores se casem, um alimentando o outro; e, dessa forma, não sendo possível ao ente auto-enganado, na hora de sua agonia, discernir o que lhe está a acontecer no agitado mar das suas emoções e sentimentos. E, como já disse, tudo isto se traveste de piedade ou bondade nos pretextos aos quais a alma se aferra a fim de prosseguir no seu intento.

Por esta razão, devo dizer que o autoengano é a mais piedosa forma de dissimulação inconsciente; a
qual, em tempo de aviso [de terceiros], nunca é atendida [...]; e isto em razão de que para o bem intencionado tal “contraditório” lhe soe como uma heresia contra a boa intenção sentida como verdade e sinceridade inquestionáveis.

Assim, lutar contra o autoengano de alguém é sempre como enfrentar esperanças [...] e descrer da própria verdade instituída como desejo santificado pela boa intenção e pela esperança bondosa do ser bom — e que deseja crer contra os fatos e a realidade. Portanto, trata-se de uma batalha perdida!

Isso porque, psicologicamente, o autoengano faz “edição inconsciente da realidade” [...], deixando ficar na memória apenas aquilo que o “editor bem intencionado” da bondade [o auto-enganado], arbitrariamente determine que sejam os fatos importantes e essenciais da realidade a serem privilegiados para fins de adesão/edição [a dele] da realidade —; e isto sem o peso do juízo e da culpa, como convém a ele que seja.

E quem poderá contraditar tal suposta “realidade” uma vez que ela se sacramente pela unção da sinceridade auto-imposta?

É por esta razão que o autoengano somente possa ser curado por um choque dolorido e dramático de realidade; isto, ainda, se o auto-enganado se deixar conduzir minimante pela sabedoria...

Do contrário, mesmo em tais ocasiões, a relutância de sua boa intenção o fará sentir-se traindo a si mesmo caso renuncie ao seu intento [...]; ou seja: negando a bondade que ele
ou ela projetaram sobre o “sujeito/objeto” de seu bem intencionado engano/santificado.

De coração espero que, sem autoengano, você tenha me compreendido; pois, de mim mesmo, sei que somente o Espírito Santo pode nos guiar a toda Verdade e vencer em nós o autoengano!

O que aqui escrevi [...] esclarece apenas aquele que não esteja em processo de autoengano; pois sei que nada pode contra aquele que, pela unção das boas intenções, já tenha mergulhado nas enganosas e ilusoriamente cristalinas águas do autoengano [...]; sejam quais forem os seus pretextos de direito, piedade, bondade ou até de amor [...] aos quais tenha recorrido a fim de dar prosseguimento à sua própria e dissimulada vontade.

Nele, em Quem nunca houve nenhuma vitória da bondade mágica contra a Realidade e a Verdade,
privilegiando qualquer autoengano,