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terça-feira, 12 de junho de 2012

No Divã com Jesus


Segundo o Psicanalista Clínico Jackson Garcia o olhar psicanalítico não tem o objetivo de apontar o que o paciente necessita fazer para entender seus porquês, e, sim, pensar e refletir juntos, levando-o a fazer leituras de sua vida por ângulos que ainda não observou.

Assim, por meio da análise, pelo olhar investigativo da história do todo da pessoa, sem ignorar os pequenos eventos, por mais insignificantes que sejam, é que a terapia psicanalítica procura montar e decifrar  a história do paciente, como alguém em busca ávida das peças exatas para o encaixe perfeito do quebra-cabeça. 

Entrei na sala de consulta às 18h00min sentei no Divã e comecei a dialogar com o doutor, contei para ele todos os meus problemas, estava estressado por estar desempregado, deprimido por meu casamento está à beira da falência, e frustrado por que todos os meus projetos fracassaram, foi nesse exato momento que não pude conter as lágrimas e desabei, minha voz ficou embargada e entre palavras e soluços contava para o doutor que não aguentava mais tanta dor.

As feridas da minha alma eram profundas demais, para serem curadas, o grito de desespero solapava meu peito com muita força, contudo minha alma estava amordaça sem forças para lutar contra as adversidades, me senti um inútil e cheguei à conclusão de que minha vida não tinha valor.

O doutor ouvia meu desabafo calado, então fiquei cético, e pensei será que esse doutor está me entendendo, será que ele se importa comigo. De modo que fiquei aterrorizado só de pensar que talvez ele nem tivesse me ouvindo, mesmo assim continuei contando a minha história.

Durante a seção o doutor apenas avaliou o meu caso, mas o mais estranho foi que ele não me disse uma palavra sequer, alias seu silencio era intrigante, pois me confortava.

 Me senti aliviado, pois um grande peso tinha saído das minhas costas, fui pagar o doutor, mas ele não cobrou pela consulta, achei estranho.

A segunda consulta aconteceu alguns dias depois, onde novamente me sentei no divã, e contei minha história para o doutor, só que dessa vez a situação era bem pior, pois minha filha morreu em um acidente de carro, e me sentia culpado, tinha pesadelos, fiquei com síndrome de pânico, depressão, e hipocondria.

Todavia não sabia que o Autor da Vida havia criado um mecanismo chamado psicoadaptação emocional que atua na Memória de Uso Continuo (MUC) conduzindo a dor da perda para a Memória Existencial (ME), ou seja, tira o acidente do consciente e o leva para o inconsciente, e ele se torna lembranças.

 As lembranças não apagam da memória o acidente e nem a perda, elas apenas suavizam a dor, conduzindo o trauma para o inconsciente onde ele é arquivado.  Contudo não há como mensurar as dores de uma perda, visto que as pessoas reagem de formas diferentes quando expostas a traumas similares.

O doutor conhecia todos os mecanismos da memória, neurônios, neurotransmissores, hipocampo, hipotálamo e casa célula que forma a mente, ele também conhecia os diferentes tipos de organismos, e suas reações diante de todo tipo de problema. Alias esse doutor sabia quais eram meus pontos fortes e meus pontos fracos, sabia que quando a noite chegava, o medo controlava minhas emoções, pois as imagens do acidente ficavam vivas em minha memória.

As minhas emoções estavam em frangalhos, estava à beira de um ataque de histeria, mas foi nesse momento que percebi que o olhar do doutor Jesus penetrava em meu ser, e curava os meus traumas interiores, e quanto mais olhava para ele, mais me sentia aliviado.

Deitado no divã de Jesus aprendi a valorizar as pequenas coisas da vida, a inalar o perfume dos lírios do campo, a reconhecer o valor de uma amizade, a ser feliz independente das circunstancias.

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